MÃE, OS HERÓIS EXISTEM?

MÃE, OS HERÓIS EXISTEM?

– Mãe, acreditas que existem heróis na vida real? –  Perguntou-me a minha filha quando cheguei a casa.

Nesse dia havia participado na primeira reunião transnacional do projeto G.R.O.W. (Growing Our World Inside Out), no âmbito do Programa Erasmus+, no Agrupamento de Escolas da Alapraia.

O objetivo do GROW é promover a aprendizagem dos alunos em contextos naturalizados das escolas, integrando o espaço escolar ao ar livre no projeto educativo. Pretende ainda envolver toda a comunidade educativa e partilhar práticas com outras escolas. O ponto de partida é a experiência dos parceiros belgas, e as suas aprendizagens, na transformação da escola Saint Paulus para conseguir um elevado bem-estar dos alunos, com a missão de educar as crianças para serem cidadãos conscientes do mundo, com um foco na sustentabilidade, ecologia – e respeito para com as pessoas e a Natureza.

– Os heróis existem filha. Eu conheço muitos. – Respondi sem hesitar.
– Quem são? – Quis saber ela, cheia de curiosidade.
– Há tantos! Hoje vi uns quantos.
– E que fazem esses heróis?

– Fazem autênticos milagres! – expliquei eu – Convertem o betão dos recreios em paraísos da natureza, nos que as crianças podem aprender e crescer em segurança, conseguem converter os medos em estímulos, os desconhecidos em amigos, os que têm falta de confiança em si próprios e fortes, e os fortes em heróis que ajudam os outros.

São também heróis os pais que criam associações que zelam incansavelmente pelo bem-estar dos seus filhos. Pais que procuram as melhores soluções para os tempos livres das crianças e que são um exemplo para as novas gerações. Refiro-me ao Diretor de Agrupamento que passa dias a fio nas escolas, alguns feriados inclusive, a cuidar de todos os detalhes e de todos os que não têm medo de implementar mudanças para melhorar a vida dos alunos. Daquela pessoa que todos os dias visita as crianças das unidades de apoio especializado (para alunos com multideficiência), para obter os seus sorrisos. Sorrisos de crianças que não conseguem nem caminhar, nem escrever, nem falar, mas que ouvem, sentem, aprendem, e nos ensinam a todos. Sorrisos que são a garantia de que cada um está a dar o seu melhor.

Há mais heróis: as crianças autistas que nem conseguem sorrir, mas que, da mesma forma que outras crianças com dificuldades, lutam diariamente para acompanhar os novos desafios apresentados por estes tempos de continua mudança. Os políticos que apostam na educação, que se preocupam, que as crianças aprendam a brincar, para que sejam mais felizes, comam melhor e estejam mais preparadas para o futuro. Políticos que acompanham os projetos de perto para terem a certeza de que o resultado é o bem-estar das crianças. É o caso do Instituto de Apoio à Criança e da sua defesa dos direitos dos mais novos. E da Associação Pigmaleão e do seu apoio a crianças e jovens com necessidades específicas. São heróis os professores que fazem todos os dias 80 kms para estar onde as crianças precisam deles, que não desistem ante as dificuldades e que são capazes de mudar vidas ou os educadores e monitores que brincam com eles todos os dias e que, com materiais reciclados e muita imaginação, os ajudam a construir universos fantásticos cheios de momentos felizes.

– Que sorte que hoje viste tantos, mãe!
– Na realidade, todas as semanas, nas minhas visitas às escolas onde a Vitamina oferece serviços, tenho a oportunidade de encontrar-me com heróis.
– Fala-me de mais heróis.

E fiquei a pensar. Não sabia por onde começar. Senti-me cheia de orgulho e afortunada por poder colaborar diariamente pessoas tão importantes. Sorri e a minha filha sorriu também. Poderia falar de muitos pais, mães, professores, educadores e monitores por todo o país. Poderia falar do trabalho das psicólogas da Associação Pigmaleão que conseguiram que uma criança que há 3 anos em silêncio, voltasse a falar. Poderia falar das pessoas que ajudaram na integração escolar de crianças com 5 e 6 anos que foram encontradas em condições infra-humanas no Seixal, e que não sabiam comer em condições nem falar. Poderia falar dos Presidentes e Diretores de Instituições de Ensino Superior que reconhecem a necessidade de continuar a ajudar aos “miúdos mais crescidos”. Poderia falar dos programas para que os estudantes universitários com dificuldades não desistam, para que os suicídios deixem de ser opção, para que todos os que precisam, possam ser ouvidos e sentir-se importantes, porque todos somos importantes, e todos podemos ser heróis.

Olga Delgado

Diretora Executiva da Vitamina

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